Após o parto, naturalmente, todas as atenções se voltam para o bebê que vem ao mundo. A mãe, porém, também precisa de cuidado nos primeiros momentos pós-parto, incluindo um retorno ao serviço de saúde para a consulta de puerpério até 42 dias após o parto. Também chamada de revisão de parto, essa consulta visa um momento para se identificar fatores de risco, e sua ausência pode estar associada a uma maior frequência de doenças, desmame precoce e mortalidade materna, ainda alta no Brasil.
Uma pesquisa de doutorado da UFPel revelou, no entanto, que apenas 53% das mulheres retornaram ao serviço de saúde para atendimento. Os resultados foram descobertos no projeto da tese da doutoranda Cristiane Gonçalves, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. O trabalho de Cristiane busca avaliar o acesso e a qualidade do cuidado no puerpério oferecidos pela Atenção Básica no Brasil.
Para a pesquisadora, os resultados são alarmantes. "Considerando que as mulheres mais desfavorecidas economicamente, com baixa escolaridade, que utilizaram o sistema público de saúde para o pré-natal e aquelas mais expostas a uma gravidez recorrente foram as que menos retornaram ao serviço de saúde para a consulta de puerpério, contribuindo para a baixa cobertura desse cuidado", explica.
Outro fator que chamou a atenção de Cristiane foi o elevado índice de óbitos maternos. Apesar da meta de reduzir o número de mortes de mães para 35 a cada 100 mil nascidos vivos no Brasil, os números cresceram durante a pandemia. Em 2021, foram 107 mortes a cada 100 mil nascimentos no País. "Apesar de 98% das mulheres terem recebido algum tipo de cuidado pré-natal, observa-se uma divergência, um descompasso entre o aumento da cobertura de pré-natal e o aumento da mortalidade materna", considera a pesquisadora.
"Para haver uma mudança nesses indicadores é necessário repensar políticas e condutas, tanto no aspecto da gestão quanto na assistência", avalia a doutoranda. Ela explica que para elevar esses indicadores, é necessário que gestores identifiquem as particularidades de sua região para investir na expansão da estratégia de saúde da família, ampliando o número de enfermeiros e agentes comunitários de saúde, incluindo visita domiciliar.
Um dos caminhos para ampliar o atendimento materno é aproveitar a oportunidade em que o bebê vai fazer a consulta pós-parto para também atender a mãe. "Do contrário, é uma oportunidade perdida, uma vez que a maioria das crianças são levadas pela mãe e isso deve ser dialogado entre as equipes e as gestantes ainda no pré-natal", pontua.
Em Pelotas
Segundo a diretora de Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Greice Matos, as puérperas de Pelotas fazem seu acompanhamento na UBS de referência de seu bairro, com a primeira consulta na primeira semana pós parto, quando se inicia também o acompanhamento de puericultura das crianças. Conforme a diretora, cada UBS tem seu controle de gestantes, puérperas e crianças em puericultura, sendo realizado busca ativa quando necessário.
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